terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O glorioso retorno de quem sempre esteve aqui

           Definir a grandeza de uma equipe dentro de um espaço geológico quando comparada aos outros é uma tarefa difícil. Geralmente usamos a quantidade de títulos para definir se uma equipe é mais tradicional que a outra, mas essa é uma visão limitada. Um exemplo bom é o Chelsea que, mesmo tendo um histórico de títulos muito mais expressivo que o do Sunderland ou o do Arsenal, com certeza não é maior que outros times mais antigos da Inglaterra. O Nottingham Forest, que só foi grande em 1970, não é da mesma estatura de um Porto ou Burussia Dourtmund só porque tem mais Champions League. Uma equipe “grande” precisa de bem mais do que títulos: é necessário torcida, consistência nas vitórias e também ser um ícone do futebol local. Todas as equipes que se encaixam neste perfil já tiveram grandes jogadores e treinadores, já jogaram grandes partidas e ganharam importantes títulos. Mas o mais importe mesmo é conseguir ter uma consistência no percurso histórico, apresentar talentos e disputar títulos durante um grande período da sua história. Ou seja, ser relevante de verdade em mais do que cinco ou dez anos (alô Chelsea!). Pensando desta forma o futebol europeu podemos então escolher quatro equipes que se destacam mais que as outras: Real Madrid, Bayern de Munique, Barcelona e Juventus. É sobre este último que falaremos aqui.
Essa camisa rosa é UM LUXO!
         A Juventus tem duas Champions conquistadas na sua história: em 1984 com liderança de Michel Platini (antes de ser um filho da puta Platini foi um dos melhores jogadores da sua época) e em 1996 com Roberto Baggio. Parece pouco, mas além dessas duas vitórias foram mais seis vice-campeonatos e outras três eliminações em semifinais. E o curioso é que a equipe esteve entre os quatro melhores pelo menos uma vez em todas as décadas entre 60 e 2010 (O Milan, mesmo com seus sete títulos, não conseguiu tal feito). Mas foi no nível nacional que a Juventus fez seu nome: 31 títulos nacionais (quase o dobro dos times de Milão) e 10 copas. Um dos retrospectos mais poderosos entre todas as federações relacionadas a FIFA.
             O problema é que nos últimos anos a equipe perdeu seu valor na Europa. Entre 2003 e 2015 a equipe não conseguiu chegar as semifinais, tendo sido rebaixada durante este período e sofrendo muito para voltar ao topo da liga nacional. A vecchia signora viu a ascensão de equipes menores e o domínio dos seus maiores rivais que se destacavam no continente. Foi só com a chegada de Antonio Conte que a equipe voltou a dominar a Itália, com três títulos da Serie A seguidos num dos piores momentos do futebol italiano (o país perdeu uma de suas vagas na Champions League). Mesmo após a saída do treinador e da chegada de Massimiliano Alegri a equipe continuou em boa fase, com a tríplice coroa nacional e numa surpreendente chegada à final da Champions em 2015. 
            Após uma ótima sequência, contudo, a equipe sofreu um baque, com a temporada 15/16 não começou muito bem. Carlos Tévez, craque do time, decidiu voltar para o Boca Juniors após onze anos e outros jogadores importantes saíram: Ogbonna foi para o Aston Villa, Andrea Pirlo foi brincar de ser famoso nos Estados Unidos, Vidal foi para o Bayern de Munique e Llorente foi para o Sevilla. Os substitutos que vieram (Khedira, Mandzukic, Dybala, Cuadrado) até animaram os torcedores, afinal são realmente melhores que aqueles que saíram, mas o fato é que a equipe de Turim não conseguiu se entrosar. Nos amistosos preparatórios para a temporada foram duas derrotas simbólicas para Borussia Dortmund e Olympique de Marseille. Ainda que tenha vencido a Supercopa Italiana, o inicio na Serie A foi difícil, conquistando um ponto em nove disputados nas rodadas iniciais. A Juventus até foi bem na fase de grupos da Champions, se classificando como segundo num dos grupos mais difíceis dessa temporada, mas esta posição ainda foi pouco para uma equipe que havia sido vice-campeã na temporada anterior. Na liga nacional a equipe só conseguiu três vitórias, três empates e quatro derrotas nas dez primeiras partidas. Os torcedores já estavam convencidos e começando a aceitar que o time não conseguiria repetir a ótima temporada, até que a equipe encaixou.

"Quer dizer que eu vou ter que substituir o Pirlo?"

          Neste momento não tem nenhuma equipe na Europa com uma sequência tão boa quanto à equipe Juventina: são dez vitórias seguidas contra equipes que impõe respeito como Milan, Fiorentina, Lazio e o rival Torino. O time foi se organizando e ficando mais leve, num processo que evidencia o entrosamento da equipe até encontrar a fórmula perfeita. O resultado de tudo isso é que agora eles ocupam a segunda posição e já começam a causar pesadelos na Napoli de Higuain. A equipe joga num bem estruturado 3-5-2, com a zaga bem firme, ataque móvel e um meio campo que joga num interessante sistema de linhas bem similar a equipe de Nedved e Davids.
Esse esquema é perfeito contra qualquer outro que seja usado hoje em dia. A linha de meio campo força que o adversário use passes logos ou troque passes na defesa. Quanto mais longo o passe, mais fácil para que os três zagueiros possam cortar a bola. Durante a construção das jogadas os zagueiros trocam passes até achar algum dos cinco meio campistas com liberdade, os atacantes adversários precisam cortar as linhas de passes possíveis para os três zagueiros, exercício quase impossível e muito desgastante (quando um time joga com dois atacantes contra dois zagueiros só tem que cortar duas linhas de passe e esperar o meio campo defender os laterais. Com três zagueiros toda a responsabilidade recai sobre os homens de frente). Quando a bola chega ao meio campo o adversário se vê em menor número e não consegue marcar toda a largura que a equipe usa. No jogo contra a Udinese, por exemplo, os lados do campo foram preenchidos por Lichtsteiner e Alex Sandro, enquanto Asamoah, Marchisio e Khedira ocuparam o centro do meio campo, formando então uma linha, mas geralmente Pogba e Cuadrado são titulares.

            A questão é que não tem nenhum meio campo tradicional que consegue marcar esta formação. Os laterais precisam avançar para marcar os alas (que não avançam tanto), abrindo um espaço atrás que pode ser ocupado pelos jogadores centrais (no esquema acima seriam Pogba e Cuadrado) ou pelos atacantes.  A estratégia de Massimiliano Allegri é, portanto, criar uma parede no meio de campo que, quando defendendo, faz a bola chegar quebrada contra os três zagueiros e, quando atacando, força o time adversário a fazer mudanças táticas e deixar espaços abertos que podem ser ocupados pelos atacantes e meias. É no final, um jogo de indução e ocupação de espaços. 
             E a equipe segue se reforçando e buscando mais jogadores para poder ter mais opções de jogo. Ainda tem todo o segundo turno para buscar o Napoli na liga italiana, mas a sua grande prova de fogo vai ser nas oitavas da Champions. Um confronto direto contra o Bayern de Guardiola e de seus quatro atacantes. Vencendo ou não, o certo é que o maior time italiano agora voltou ao seu habitat natural: o topo do futebol europeu.

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